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Uma espécie de pacto de silêncio - Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I (Cascais)

 

Existe no processo de trabalho de Sebastião Castelo Lopes (n.1994, Lisboa) um rigor sistemático pouco usual, quase laboratorial. No atelier, verifica-se um ímpeto metodológico: irremediavelmente usa o mesmo papel, com as mesmas dimensões (ora 100x70, ora 70x50) com os mesmos materiais (carvão e acrílico), com as mesmas cores (preto, branco). Cada desenho tem o seu espaço e tempo de intervenção pré-determinado e encontra-se numa espécie de processo, cíclico e rotativo, que se traduz num movimento de retorno à multiplicidade (por vezes, várias dezenas) de desenhos que em cada momento ocupam a atenção do artista. Trata-se de um processo (em alguns casos ao longo de três anos) de desenhar camadas sobre camadas de imagens, citações roubadas sobre citações. Rouba; recicla; reutiliza; danifica; risca; apaga; e constrói ciclicamente cada uma das suas obras.

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No desenho denota-se o gesto que, simultaneamente, apaga e constrói, edifica e remove. Ao invés de esconder, a cronologia das superfícies torna-se visíveis: é tanto esboço como produto final, tanto rascunho como objecto estético. De certo modo, os trabalhos contrariam a ideia de que a construção (o processo de criar o que quer que seja) antecipa um objecto completo.

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Basta deixar correr o olhar pelas obras que se coloca a questão: o que estamos a ver? São desenhos? Ou, são objetos escultóricos? Esta indeterminação formal no trabalho de Sebastião reflete imediatamente a sua preocupação numa não categorização do seu trabalho.

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Os desenhos encontram-se emoldurados por caixas imperfeitas. Plasticamente, a moldura transcende a sua condição de mero suporte de obras. Quer dizer, nas molduras encontramos objectos escultóricos, representações extensas. Como que numa ambiguidade entre meios de representação: se por um lado os desenhos representam silhuetas de objectos no espaço (esboços de objectos que projectam a sua fisicalidade e realização material), as esculturas, por outro, consignam um retorno à linguagem gestual do desenho: no branco, no negro, na imperfeição, no erro e na composição. Fecundamente, Sebastião desenha a escultura no preciso momento em que esculpe o desenho, sem pontos de partida ou de chegada.

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Cada linha, cada traço pertence a um conjunto de códigos de representação, não do real, mas da linguagem escultórica dos próprios objetos. Trata-se de desenhar o espaço, como forma de pensar e habitar o mesmo. Desenhar como uma extensão do pensamento, como ponto de partida para a escultura. Como que num gesto arquitectónico.

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Na miríade de representações que os desenhos manifestam, encontramos esboços. Rascunhos de estruturas que, em seu turno, se materializam nos objectos escultóricos. Imediatamente, denotam-se traduções físicas de representações plásticas: desenhos de caixas dentro de caixas de madeira; representações de estilhaços de madeira próximos de pedaços físicos de madeira; apresentações do espaço, por sorte das próprias salas da exposição: as representações em “UMA ESPÉCIE DE PACTO DE SILÊNCIO” ganham corpo, fisicalidade e expressão material.

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Em “UMA ESPÉCIE DE PACTO DE SILÊNCIO”, representam-se imprecisões e imperfeições, como que numa remissão à impermanência inelutável das formas do mundo. Se por um lado as caixas sinalizam um método atento, sistemático e universal imposto no atelier, as obras, por outro lado, manifestam gestos passados, lapsos e imagens intrinsecamente elusivas ou polivalentes. Talvez seja por isso que há tanto de visível como de imaginário na obra de Sebastião: porque é, incontornavelmente, um convite à associação e escrutínio entre a superfície e os fantasmas que esconde.

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O espaço que Sebastião Castelo Lopes nos apresenta é exigente. É um local em que a leitura exige a participação. Exige a relação, síntese, comparação e associação entre o diferente: entre o desenho e a escultura, o produto final e o rascunho, entre o espaço e as obras que nele se manifestam, entre o detrito e escombro, entre obra e poesia. Irresoluta e indecisa, a exposição antecipa uma montagem do entendimento e imaginação, pensamento e corpo, realidade e ficção. Promove-se, enfim, uma auscultação das relações íntimas entre objectos. No que os une e separa, nas fissuras e iatos, nas imperfeições e incumensurabilidades.

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Apreende-se adivinhando: palpita-se. Como que num espaço enigmático e, por isso mesmo, lúdico: na construção — montagem (e re-montagem) — de um universo de miscegenações e hibridismos. Por sorte que a exposição seja “UMA ESPÉCIE DE PACTO DE SILÊNCIO” de si para consigo, uma viagem diarística que tanto se refere à obra como àquele que a indaga.

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by Frederico Portas and Tomás Agostinho, 2023

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O ponto onde coisas tocam noutras coisas - Galeria Helder Alfaiate (Ericeira)

PT - O PONTO ONDE COISAS TOCAM NOUTRAS COISAS de Sebastião Castelo Lopes, com obras de Julião Sarmento, é a primeira exposição do ciclo TÊTE-À-TÊTE, na HÉLDER ALFAIATE — GALERIA DE ARTE, na Ericeira. A exposição pretende encenar um diálogo entre práticas artísticas heterogéneas e tem como assunto o aprisionamento do corpo aos seus limites e a projeção da sua dissolução. Por via de fragmentos, símbolos e índices, somos convidados a operar uma auscultação da matéria de que somos feitos, do nosso corpo, da nossa carne.


1. O que os une

1.1 Redução - Através de percursos e vocabulários distintos, as diversas obras que compõem a exposição posicionam-se como exercícios de redução. A multiplicidade de imagens que nos são oferecidas ao olhar contam apenas com presença de partes, de vestígios e de segmentos. As representações pictóricas, ora através da mera fixação de contornos, ora através de silhuetas, fixam o grau de exigência mínimo para que seja possível o reconhecimento dos objectos representados.
Mesmo no caso da base azul e cinzenta dos desenhos de Sebastião Castelo Lopes, que resulta de um processo (em alguns casos ao longo de três anos) de camadas sobre camadas de imagens, de formas que já foram edificadas para serem posteriormente apagadas, verificamos uma redução. Neste sentido, poder-se-ia dizer que há uma conformação dialética entre a “cobertura”, empurrada a posição de fundo, e os objetos e palavras que “tomam a dianteira” no assunto de cada desenho e na conversa que a exposição pretende despertar.

 

1.2 Fragmentação - Adicionalmente, a multiplicidade de dispositivos, tanto plásticos como teóricos, presentes na exposição, exploram a noção de fragmento. Trata- se de um todo reduzido a parte, num peculiar comércio entre aparecimento e escondimento. O espectador é convidado ao preenchimento fenomenológico e categorial de elementos que a imagem não disponibiliza mas não deixa de noticiar. Consequentemente, quem observa a “discussão”, este peculiar“tête-à-tête” é uma parte ativa na configuração da “versão das coisas” que cada obra pode consignar. Ele deposita, recorrendo às faculdades da imaginação, um corpo em obras que apenas denotam um antebraço, um rosto em peças que apenas demonstram silhuetas. Assim sendo, o espectador posiciona-se — conforma-se, decide-se — no horizonte de perguntas, problemas, ambivalências e possíveis significações que cada peça autoriza. Considere-se, antes de mais, a estrutura que, simultaneamente, se apresenta como condição e fundamento da multiplicidade de leituras e significados das obras: o espaço, o tempo.

 

1.3 (in)temporalidade, (in)espacialidade - Por um lado, o tempo para que os dispositivos nos lançam, é ausente, verificando-se, na exposição, propostas plásticas virtualmente intemporais. As perguntas que levantam, bem como as possíveis respostas que delas se possam retirar, não requerem a consideração de um antes ou depois da imagem. Por outro lado, a geografia — o espaço — de cada imagem não é claro. O lugar para que as obras remetem é artificial, sem definição ou limitação. A multiplicidade de problemáticas que as obras exprimem pede, precisamente, a sua abstração de realidades espacio-temporais determinadas. É isto que as une. Assim o é porque a carne, com todas as suas limitações e inclinações, não tem propriamente uma narrativa.

 

2. O que os separa

2.1 O erótico, a dor, em Julião Sarmento - Todavia, a noção de diálogo não é apenas uma remissão para concordância, semelhança ou homogeneidade entre agentes. O diálogo, enquanto tal, é também um encaminhamento em direção à diferença, à alteridade. Como se viu, ambos os artistas parecem implantar um vocabulário de fragmentação e redução, nas condições que lhes são impostas pela mediação do desenho e proficiência. Eles diferem, contudo, no modo como tratam o corpo e as suas vicissitudes.
O estudo para as good as it gets (2005) de Julião Sarmento, dá-nos a ver uma mão a “escarafunchar” o próprio corpo. Esta peça, bem como Inadequate Readings (back she began to do her breathing) (2002), são sinais de uma reflexão que incide sobre a estrutura do desejo. O desejo, a fome de objetos ausentes, é subalterno à circunstância de “estarmos virados” um “mim” a-haver completo. O corpo a penetrar a própria pele é o sinal de um peculiar desejo, pre-discursivo, carnal, primordial, fetichista e eventualmente libidinal,

que encontra a plenitude na agonia, na tortura, na dor.

 

2.2 Condições vitais, em Sebastião Castelo Lopes - Contrariamente, as peças de Sebastião Castelo Lopes, têm como tema dominante o tempo e o espaço. Seja por via de remissões linguísticas explícitas, ou por via de objectos pictóricos, a prática de Sebastião Castelo Lopes é já um posicionamento, fenomenológico e existencial, em relação às condições espaciais e temporais do nosso acesso às coisas. Dito de outro modo, as imagens do artista emergente representam a natureza aprisionadora, restritiva, eventualmente entediante ou aflitiva, do aceso de que dispomos.

 

3. O diálogo: Possíveis aberturas

Não obstante, a presunção de que a exposição pretende exprimir um convívio entre declarações artísticas desiguais prevê já, conforme a disponibilidade de cada um, a identificação de possíveis interferências, distorções, afetações ou justaposições entre imagens. Considerem-se, a tipo exemplificativo, algumas: a multiplicidade de armadilhas, grades, prisões, espaços indeterminados e frases de Sebastião Castelo Lopes, individualmente, não têm uma notícia explícita do desejo erótico. Porém, considerando-se a co-presença de obras, seria possível interpretar o trabalho do jovem artista como sendo uma remissão legítima ao conjunto de estruturas primordiais — transcendentais — que aprisionam e interferem o corpo de que somos feitos, como que numa antologia de perturbações carnais. O mesmo pode ser dito em relação às obras Julião Sarmento que, através dos sinais e eventuais diagnósticos que as obras do mais novo exprimem, permitem migrações simbólicas e justaposições entre práticas. Deste modo, por exemplo, o ato de penetrar a pele não corresponde apenas à inclinação e desejo de dor física. Corresponde a uma navegação que enseja a fuga do corpo, incontornavelmente deposto em fixações espacio-temporais. Tanto o tédio como a angústia, disposições que eventualmente produzem o desejo de auto-mutilação, decorrem do modo como o tempo é percecionado e, sobretudo, vivido. 
O trabalho do artista mais novo, por via de gestos e palavras, produz uma ampliação radical dos problemas presentes nas obras do artista mais velho. Como que numa projeção de luz a motivos previamente sombrios, inexplícitos. Mas não só. O modo como as obras de Sebastião Castelo Lopes estão dispostas no espaço (ou na ausência dele), com todo o seu peso e instabilidade (sobretudo na escultura suspensa), interferem com o corpo do espectador. O visitante tem de arrostar, com cuidado e atenção, o seu corpo para um espaço dedicado à finitude da carne. Na verdade, a exposição é, só e apenas, sobre aquele que a vê, no modo como nela se revê, com tudo o que isso implica.

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by Frederico Portas, 2022

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O céu está... - Circle Collection (Lisboa) 
 

Azul, cinzento, preto e com poesia. A seleção de obras de Sebastião Castelo Lopes para esta exposição são camadas e vestígios. São formas que aparecem e desaparecem consoante a vontade do artista vemos apenas aquilo que está assumido e adivinhamos o que estará por trás, os pensamentos e processos que ali estão impressos.

 

Temos acesso a partes, a linhas sumidas que dão lugar a formas carregadas. Há uma vontade não restritiva, mas sugestiva, que nos deixa sonhar. Não limitativa, mas que cria e nos dá acesso ainda que restrito - àquilo que está escondido por camadas.

 

Há também a poesia. Há o espaço para as palavras que são pistas. Estou a ver-te, Finalmente Sós...advinhá-se aqui também inquietude e intenção. Necessidade. Pistas para as formas e para a névoa. A influência da literatura, da proximidade com as palavras, com a leitura e todo o universo do artista. São silêncios escritos. São os livros que Sebastião Castelo Lopes lê. São memórias e paz que está por vir. Segredos como as formas que não vemos.

 

As esculturas são também hipóteses. São possibilidades que se constroem e desconstroem com diferentes resultados. São cápsulas de tempo, guardadoras de histórias, que protegem vontades, vestígios de recomeços e destroços.

 

Estes desenhos são aquilo que o artista nos permite ver. O que nos permite adivinhar.

 

São o voltar. Recomeçar. São como o Céu está...

 

by, Maria Inês Augusto, 2022

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No céu todos, todos serão cegos - Fundação Bienal de Arte de Cerveira (Cerveira)

 

EN - Paintings on the wall, other objects on the floor. For those who possess an operational view, the visual apprehension of the constituent elements of an exhibition seems to be immediate. In the interstice of this apprehension and the internal structure of the artwork (the works itself, we might say), lies a desire to discover. In its experience lies the communion of sharing. The purpose of the eyes seems to be a sovereign force, and sometimes it will be, regardless of the gap between what the work formalizes and what it might mean - either due to context, title or any other language. Therefore, what do we see in an art work? It would otherwise suggest the exhaustive and deceitful ocular scrutiny. For it overshadows itself, its pertinence is a misty place, but our relationship with the artwork is resiliently fertile: its seclusion pushes forward, but what is left without it? It will be a remnant, or an opportunity, a portal. What, then, does an  artwork express? If there's pertinence within the mist, if seeing is also a barrier and what remais is an opportunity. Fortunate are those who believe because, at least in heaven, all will be blind.  

 

PT - Pinturas na parede, outros objectos no chão. Para quem possui uma visão operacional, a apreensão visual dos elementos constituintes de uma exposição parece ser imediata. No interstício desta apreensão e a estrutura interna da obra (a obra em-si-mesma, poderíamos dizer), reside uma vontade de encontrar. Na sua experiência, a comunhão da partilha. A intenção dos olhos parece ser força soberana, sê-lo-á, por vezes, independentemente do interregno entre o que a obra formaliza e o que esta pode significar – por contexto, título e qualquer demais linguagem. O que vemos, então, numa obra? A obra senão sugerirá, o exaustivo escrutínio ocular, fraudulento. Pois esta ofusca-se, a sua pertinência é um local brumoso, mas a nossa relação com ela, resistentemente fértil: a sua reclusão impele, mas o que sobra sem esta? Será uma sobra, ou será ensejo, será um portal. O que diz, então, uma obra? Se a pertinência está na bruma, se ver for igualmente uma barreira e o que sobra for ensejo. Afortunados aqueles que crêem pois, pelo menos no céu, todos serão cegos.

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by João Valinho, 2022

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It remained to be seen - Pada Studios (Lisboa)

 

EN - (...) The nature gradually finds a way to coexist with the remains of industrialisation can be experienced in the multiple layers of Sebastião Castelo Lopes's drawings. He interprets the surrounding visual confrontations by depicting contrasts of tones, shapes and compositions, in drawings that become the place for balance. The direct citation to the industrial landscape can be found in the geometric blocks and dark surfaces appearing on top of organic forms. Abstracting his drawings from the question of colours by using solely shades of greys, Castelo Lopes brings attention to the light and the impressions generated. The relationship between what is said, described, and their formal appearance, emerge at the surface which acts almost as a space of disorder but still offers the viewer the possibility to navigate through sadness, boredom, hope and serenity. (...)
 

by Julia Gros, 2020 

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Drawing Room Lisboa 2020 - Apresentado por Galeria Monumental (Lisboa)


PT - Com um percurso artístico e académico decididamente centrado no desenho, Sebastião Castelo Lopes articula traço e palavra num trabalho de uma notável força poética, onde o jogo de intertextualidades semeia – deixando ao espectador o trabalho de colher – referências a universos de escrita que vão de Baudelaire a Jaime Gil de Biedma, Adília Lopes, Mariangela Gualtieri, Miguel Cardoso, John Steinbeck, entre outros. Este trabalho virtualmente interminável, que se aplica a fazer, desfazer, refazer e sobre fazer, a preto e branco, o traço, a marca, o indício, a palavra, é por si declarado desde Work’s Words, poema visual e manifesto artístico de 2016. O desenho expande-se também para a tridimensionalidade, ganhando destaque – “saltando” da página – em elementos minimais que acentuam o carácter de instalação, experimentação, leitura, apropriação e jogo a que a sua obra convida.

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by Ana Pereirinha, 2020

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Drawing Room Lisboa 2019 - Apresentado por Galeria Monumental (Lisboa)

 

PT - Em Work’s Words, poema visual e manifesto artístico de 2016, Sebastião Castelo Lopes (Portugal, 1994) declara a relação do seu trabalho com as palavras. Os desenhos recentes de Au Lecteur (2019) continuam este jogo intertextual com a poesia e interpelam também o espectador, reutilizando e retrabalhando, segundo uma ética de trabalho própria, o Ennui decadentista de Baudelaire (Hypocrite lecteur, – mon semblable, - mon frère!), numa época em que o Ennui parece instalar-se de parte a parte. Como bem observa João Valinho, Sebastião Castelo Lopes desafia-nos, e desafia-se, com obras onde nos confrontamos «com um processo de reintervenção por parte do artista, ao longo de diversas amplitudes temporais – desde meses até anos. […] Para além desta contenciosa relação entre aquilo que é dito, descrito, e a sua aparência formal, permanecem ainda as inúmeras relações destas com o inenarrável – a correspondência livre das formas, num plano emancipado da sensação, que Sebastião Castelo Lopes nos oferece como possível e nos convida a experienciar. Ao leitor, não em alegria, tristeza ou tédio, mas em plena serenidade.»

 

EN - In Work's Words, visual poem and artistic manifesto from 2016, Sebastião Castelo Lopes (1994, Portugal) states the relationship of his work with words. Au Lecteur's (2019) recent drawings continue this intertextual play with poetry and also challenge the viewer, reusing and reworking, according to a work ethic of the artist, Baudelaire's decadentist Ennui (Hypocrite lecteur, - mon semblable, - mon frère! ), at a time when Ennui seems to settle in from both sides. As João Valinho points out, Sebastião Castelo Lopes challenges us, and challenges himself, with works in which we are confronted “with a process of reintervention on the part of the artist, over several temporal amplitudes - from months to years. […] Beyond this contentious relationship between what is said, described, and their formal appearance, there is still their numerous relations with the unspeakable - the free correspondence of forms, in an emancipated plan of sensation, that Sebastião Castelo Lopes offers us. as possible and invites us to experience. To the reader, not in joy, sadness or boredom, but in full serenity.

 

by Ana Pereirinha, 2019

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Au Lecteur - Galeria Monumental (Lisboa)

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PT - Nas presentes obras a carvão, cola e tinta acrílica, todas elas sobre ou com papel, confrontamo-nos com um processo de reintervenção por parte do artista, ao longo de diversas amplitudes temporais – desde meses até anos. A esta condição de possibilidade de reformulação constante dos fenómenos junta-se a leitura aparentemente desapaixonada de algumas obras de sertanejo, que actua em simultâneo com a nossa própria leitura das obras. 

Em Au Lecteur, Baudelaire parece sugerir como nem grandes gestos nem grandes gritos (no original, "ni grands gestes ni grands cris") compõem a maior assolação – o tédio; já as tristes cantigas de amor trovadorescas do sertanejo evocam alegria na sua forma musical. Para além desta contenciosa relação entre aquilo que é dito, descrito, e a sua aparência formal, permanecem ainda as inúmeras relações destas com o inenarrável – a correspondência livre das formas, num plano emancipado da sensação que Sebastião Castelo Lopes nos oferece como possível e nos convida a experienciar. Ao leitor, não em alegria, tristeza ou tédio, mas em plena serenidade.

 

by João Valinho, 2019

 

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Resultar - Two for Tea (Lisboa) 

 

PT - As peças têm que resultar. No decurso fortuito da experiência e interpretação de uma manifestação criativa conjugar-se-ão inúmeros factores, dizíveis e indizíveis, a partir dos quais uma fruição existe e um julgamento sucede. As peças resultam (do latim resulto, ressaltar, ecoar), nunca univocamente, pois ressaltam. De algo, para algo. Sebastião Castelo Lopes usa os objectos, manipulando-os em menor ou maior medida, com diferentes técnicas de desenvolvimento plástico, como a derradeira plataforma intuitiva em que algo mais concreto é transformado em algo menos concreto, com a esperança singular de algo, um indizível algo, ofertar.  

As peças resultam porque ecoam.

 

by João Valinho, 2018

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